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As 3 chaves do Poder de Manifestação

Uma das minhas histórias favoritas do audiolivro "A Maçã Dourada" é a história que me inspirou a escrevê-lo: “O Diabo com os 3 cabelos dourados”.


Nessa história, o herói tem de ir ao Submundo para obter os 3 cabelos dourados do Diabo e assim tornar-se Rei.


Uma outra história dos irmãos Grimm repete os principais temas que encontramos nesse conto, e dá-nos ainda pistas sobre o poder de Manifestação, tema tão abordado nos nossos dias nos meandros espirituais.


Antes de leres a história, imagina que regressas à tua infância. Cria uma imagem mental de ti em criança e de alguém mais velho que te vem transmitir este conto. Lembra-te que é muito antigo e que foi transmitido de geração em geração, com todos os cuidados para que nenhuma informação se perdesse. Hoje chega até ti, inteiro e forte, para te apoiar no teu processo de vida.


Imagina uma lareira acesa. Escuta o crepitar das chamas. Há um momento de silêncio que é quase sagrado, antes que as palavras surjam.


Respiras fundo e abres o teu coração para a história que agora começa...


O Diabo e a Avó dele


Era uma vez três soldados que desertaram. As condições no exército eram péssimas e eles queriam fugir a uma vida miserável.


Para evitarem a condenação à morte, os soldados escondem-se num campo de milho (ou debaixo de uma pereira, conforme as versões), esperando que o exército se vá embora. Mas passam-se dois dias e duas noites sem que o exército parta.


Já desesperados e famintos, os três soldados são surpreendidos pela chegada de um dragão que lhes oferece uma saída: irá carregá-los no seu dorso, acima do exército do qual fugiram, desde que o sirvam durante sete anos.


Após a fuga, os soldados descobrem que o dragão é o próprio Diabo. Recebem um chicote mágico, com o qual podem fazer aparecer o dinheiro que quiserem. No entanto, findos os sete anos, tornam-se propriedade do Diabo, a não ser que resolvam um enigma.


Assim, durante sete anos, os três soldados vivem uma vida de luxo e prazer.


Quando o tempo está quase a acabar, dois dos soldados ficam muito tristes e com muito medo do que lhes irá suceder. Apenas o terceiro soldado se mantém alegre e calmo, decidido a encontrar uma solução. Surge então uma velha que se oferece para ajudar, dando a seguinte indicação:


- Um de vós terá de ir para a floresta e encontrará uma rocha caída que parece uma casinha, onde deverá entrar e obter ajuda.


Só o terceiro soldado decide partir, pois os outros dois estão sem esperança. O soldado segue as indicações da velha e encontra a casinha, que na verdade é a entrada para o Inferno.


Lá dentro está “sentada uma mulher velha como a serpe” – a Avó do Diabo.


A velha pergunta ao soldado o que quer e ele conta toda a história. A Avó do Diabo oferece-se para ajudar. Pede-lhe que se mantenha escondido por trás de uma pedra, em silêncio e sem se mexer.


O Diabo surge à hora da ceia, come e bebe, e a Avó puxa conversa, perguntando quantas almas conseguiu nesse dia. O Diabo queixa-se, mas refere três soldados que vão ser seus. Explica que lhes vai propor um enigma impossível de resolver, e a velha sábia espicaça-o para que lhe revele tudo.


Assim, o Diabo revela que no grande mar do Norte há um macaco morto com o qual vai preparar um assado para dar a comer aos soldados; que a colher de prata com que irão comer é feita de uma costela de baleia; e que o copo onde irá servir-lhes vinho é feito de um casco oco de cavalo.


O Diabo vai dormir e a Avó afasta a pedra para deixar sair o soldado, que regressa todo contente para junto dos dois companheiros.


Os sete anos acabam e o Diabo vem reclamar as almas dos soldados. Contudo, oferece-lhes a hipótese de ficarem livres e de continuarem com o chicote mágico se resolverem o enigma. Eles respondem corretamente e assim ficam livres.


O poder de Manifestação está nas suas mãos.



Tempo de escutar


Tal como no conto “O Diabo e os 3 cabelos dourados”, que podes escutar no audiolivro "A Maçã Dourada" (disponível aqui) esta história diz-nos que é preciso ir ao Inferno buscar os maiores tesouros; há três enigmas para resolver; é preciso ficar escondido e escutar.


Os enigmas são sempre misteriosos. Parecem conter matéria viva do mundo dos sonhos, da magia, do inconsciente. Só através do silêncio e da quietude se pode aceder a eles, como se a chave mágica para estes “mundos invisíveis” fosse uma espécie de estado de consciência meditativo.


O que estas histórias nos estão a dizer é que não é possível entrar nelas de forma racional. O seu “ouro” reluz apenas para aqueles que estão aptos a saltar no desconhecido (como Alice, quando desce pela toca do coelho) e dispostos a largar os pré-conceitos e paradigmas da sociedade, para receber algo totalmente novo e fresco.


No entanto, não é possível perguntar nada mais além do que é suposto perguntar. No Submundo, há que permanecer em silêncio, limitando-nos a receber o que aí é dado (talvez por isso todas as perguntas de Alice, no País das Maravilhas, recebam respostas sem sentido).


Temos de nos lembrar que estes mundos da rocha, do buraco, da caverna, são mundos fora da nossa realidade quotidiana. Aí, estamos à mercê de forças primitivas e das suas leis. Jean Shinoda Bolen, analista Jungiana, diz-nos que:


“uma caverna é um útero e uma sepultura simbólica: descer a uma caverna representa uma jornada simbólica ao interior da terra, ao mundo inferior e ao mundo-além, a sítios de onde vem toda a vida e aonde toda a vida regressa, após a morte.” Jean Shinoda Bolen, "A Travessia para Avalon"

A simbologia dos números é a mesma nas duas histórias, com a primazia do 3 e do 7: são 3 soldados e 3 enigmas (evocando os 3 granthis, os nós que bloqueiam os fluxos energéticos no interior do ser humano, impedindo a ascenção da Kundaliní); são 7 anos de serviço (tempo de maturidade/ciclos de Saturno; os 7 chakras do homem antigo ou 7 planos de consciência).


A referência ao Dragão (e por extensão, ao seu equivalente, a Serpente) para designar o Diabo e a sua Avó são aqui ainda mais claras. E, facto curioso, em ambas as histórias, as Avós estão sentadas. Poderá ser simplesmente porque são idosas, mas parece-me que a alusão se deve ao facto dessa posição colocar o Centro da Raiz em contacto com a terra, reforçando a simbologia da energia da Kundaliní.


Um dos atos da Avó é colocar o soldado escondido por trás de uma pedra e após a revelação dos enigmas remover a pedra para que ele saia. Este movimento evoca de forma muito directa a remoção dos granthis, mostrando que é ali, nas profundezas onde se aloja a Kundaliní, que tem início todo o processo.


Vejamos os aspectos do enigma:


- um assado feito de macaco do mar do Norte;


- uma colher de prata feita de uma costela de baleia;


- um copo feito de um casco oco de cavalo.


Trata-se de uma refeição demoníaca, onde seriam servidos os elementos relacionados com três animais. O que primeiro me ocorreu ao olhar para o conjunto macaco-baleia-cavalo foi: energia-força-poder (segundo o Mestre DeRose, o verdadeiro Yôga sempre surgiu associado a estes três termos), mas vamos explorar um pouco a simbologia deste animais.


O macaco é muitas vezes usado para simbolizar a mente, sempre aos saltos, sempre frenética. Diz-se que a mente é como um macaco bêbado com fogo no rabo, para mostrar o quão difícil é permanecer num estado de quietude mental.


O macaco é também uma representação do próprio homem não racional, o nosso antepassado remoto. Com um ADN cerca de noventa e nove por cento semelhante ao nosso, afinal o que nos diferencia do primata? Será que comer o macaco poderá simbolizar ultrapassar o nosso primitivismo e atingir um estádio mental superior?


A baleia é o maior mamífero do mundo, com uma força descomunal. Quem leu Moby Dick não pode senão sentir uma enorme reverência por este ser. Há algo de profundamente misterioso nestes mamíferos que no inconsciente colectivo surgem, a par dos golfinhos, como os grandes curadores. Basta ouvir o som das baleias para sentirmos a sua força curativa.


O osso da costela da baleia daria uma colher de prata. O simbolismo das águas está muito presente nesta imagem: a água é o habitat da baleia; a prata está relacionada com a Lua, que por sua vez está relacionada com a água. E quando falamos de água, falamos sempre de emoções e do poder do inconsciente.


Comer o assado com uma colher de prata poderá simbolizar o domínio do nosso corpo emocional?


O cavalo esteve desde sempre muito ligado ao homem, permitindo-lhe movimentar-se no espaço antes do surgimento dos veículos motorizados. Há muitas referências a cavalos em mitos e contos de fadas, mas duas parecem-me ser importantes referir: o centauro e Pégaso.


O centauro é uma figura mitológica metade humana, metade cavalo. A parte de baixo é a parte animal, pelo que, simbolicamente, o centauro representa o domínio dos instintos.


Pégaso é um cavalo alado que nasceu no momento em que o herói Perseu cortou a cabeça de Medusa. Sempre que Pégaso batia com o casco no solo, fazia surgir uma fonte.



O copo feito de um casco de cavalo poderia ter alguma relação com este movimento criativo em que o instinto faz brotar uma nascente. Um copo ou taça donde brote continuamente uma fonte tem o equivalente na taça do Graal ou no elixir da juventude.


Assim, temos três níveis que é preciso superar: o da mente (sublimar o plano mental inferior para que se abra à espiritualidade), o das emoções (sublimar as emoções densas para abrir o Coração ao Amor Puro) e o dos instintos (sublimar a densidade da matéria para vivênciá-la de forma sacralizada).


Se observamos a localização dos 3 granthis, veremos que correspondem precisamente aos chakras ligados com estas três áreas: o 3º olho (ájña chakra - Shiva granthi ou Rudra granthi), o coração (anáhata chakra - Vishnu granthi) e a raiz (múládhára chakra - Brahma granthi).


O elemento água está presente em toda a refeição: o macaco do mar do Norte, a baleia e o copo feito de casco de cavalo. Trata-se de um refeição que pertence aos domínios profundos do inconsciente, do Diabo e da Deusa-Mãe (avó).


Em termos simbólicos, a refeição foi consumida ao ser desvendado o enigma. Tratou-se de um ato de nutrição espiritual.


Os soldados não precisaram de fazer nada, apenas de testemunhar o ensinamento. O seu papel é o de transmitir a sabedoria que foi oferecida pela “Serpente/Dragão/Diabo:


- o assado implica uma transformação pelo fogo, que sublima a atividade mental;


- a colher de prata evoca a energia lunar, de sublimação emocional;


- o casco oco onde será servido o vinho é a taça onde o veneno e o sangue da serpente são misturados para produzir o elixir da cura; é o útero da Deusa-Mãe; é o Graal; é o repositório onde se oculta a nossa serpente interna (kundaliní).


“Atreve-te a explorar as regiões desconhecidas da psique, pois aí reside o ouro criativo.” Catherine Ann Jones, "Heal Your Self with Writing"


O útero da Deusa e a serpente


A taça é um dos símbolos da Deusa. É o caldeirão celta da fertilidade e da regeneração, que não só produz comida abundante como permite ressuscitar os mortos. E aqui, no Submundo, encontramos sempre esta dualidade vida-morte. É o útero da Mãe-Terra e é a cova na nossa última morada. É o lugar onde se enrosca a serpente, onde tudo está adormecido, e é o lugar onde a serpente desperta e se ergue, em fogo vulcânico.


A serpente habita assim o útero da Terra e é conhecedora de todos os seus mistérios. Tanto dá vida, como dá morte. O truque é saber escutar, e para isso, temos de permanecer em silêncio.


Quando o silêncio é tão profundo que a mente deixa de produzir as suas vibrações e o corpo emocional permanece sereno, então conseguiremos obter as respostas e, eventualmente, despertar a sabedoria, recebendo o chicote do Diabo.


O chicote é a capacidade de manifestação, tão mal utilizada nos dias de hoje. Brandimos o chicote por tudo e por nada, e o que criámos foi um mundo tão distorcido como os nossos egos e a nossa mente. No entanto, se utilizarmos a força do chicote após termos alcançado a sabedoria, poderemos enfim construir um mundo harmonioso, gentil e pacífico.


Já deves ter reparado que o chicote tem a forma de uma serpente. Tal como a serpente, é um objecto dual: pode ferir e matar, ou pode criar ouro.


Associamos o uso do chicote à dominação e à escravatura. De facto, o Diabo domina os soldados, embora lhes dê a ilusão de que lhes dá poder, ao conferir-lhes a capacidade de produzirem riqueza. Esta é a metáfora perfeita do mundo atual, em que as forças do poder nos iludem, fazendo-nos acreditar que temos poder. No entanto, esta ilusão é produzida inicialmente dentro de nós mesmos, pois se existe fora, ela tem de existir dentro.


Os soldados tentam libertar-se do exército para irem cair na alçada do Diabo. Qualquer ser humano já passou por situações semelhantes. Quantos de nós saem de um emprego frustrante e acabam noutro ainda pior, ou largam uma relação tóxica e terminam ao lado de alguém que ainda lhes traz mais problemas. Estamos constantemente numa ilusão: prisões e mais prisões.


E tudo porque somos incapazes de ir ao único local que nos pode libertar: dentro de nós mesmos.


O único local que nos pode libertar é o nosso próprio centro.


Pois esse é o local onde podemos conversar com a nossa sabedoria interna. É o local onde a nossa alma se revela para nós.


E só a nossa alma nos pode oferecer o chicote.


No final da história, o chicote é o símbolo do homem liberto: aquele que conseguiu subjugar os seus próprios aspectos vis e alcançar a sabedoria. Aquele que se libertou de todas as prisões. Aquele que teve a coragem de escutar o Dragão.




Como usar as 3 chaves do poder de Manifestação?


A única forma de utilizar corretamente o nosso poder de Manifestação é através da conexão com a nossa verdadeira essência. Se não sabemos como fazê-lo, a única solução é aprender, tal como aprendemos a escrever, a falar línguas ou a utilizar um computador.


Parece estranho termos de aprender algo que deveria ser natural, mas o facto é que vivemos num mundo que nos condiciona a agir sem escutar a nossa voz interna. Aprendemos desde cedo a obedecer a autoridades fora de nós. E quando temos de ouvir a nossa própria autoridade, não sabemos como fazê-lo.


Acredito que as mudanças que estão a agitar o mundo têm uma bênção oculta: obrigar-nos a olhar para a nossa verdade interna.


No audiolivro "A Maçã Dourada - uma jornada de expansão da consciência através de mitos e contos de fadas", deixo-te as pistas para que possas iniciar essa tarefa.


Recebe o teu audiolivro gratuitamente aqui:





Estas lindas imagens foram produzidas para este artigo pela Carla Maciel. A Carla acredita que a "Alma se expressa por meio do silêncio e de uma profunda conexão com o centro de pureza que habita o nosso Coração Alquímico".


As imagens que a Carla canaliza ajudam-nos a reconectar-nos com a nossa Alma. Convido-te a conhecer o trabalho dela aqui:



 

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