Ele tem muitos nomes. Shambo. Nataraja. Shankara. Pashupati. Rudra. Gangadhara. E mais umas dezenas... ou centenas.
Contudo, Shiva é o nome como habitualmente nos referimos a este Ser e a imagem mais comum é aquela em que o vemos a dançar num círculo de fogo.
Há uma história que para mim representa a beleza da sua força, pois integra habilmente as polaridades do feminino e do masculino.
É a história da descida do Ganges.
Tudo começou quando um grupo de eremitas brâmanes era constantemente incomodado por demónios. Os eremitas conseguiam livrar-se dos demónios, atirando-os ao oceano. Só que no dia seguinte os demónios emergiam das águas e continuavam a incomodá-los. Era um trabalho cansativo e desgastante, como quando tentamos livrar-nos de pensamentos indesejados ou de padrões inconscientes que teimam em ressurgir.
Era urgente uma solução para este problema. Os eremitas recorreram a Agastya, um santo muito famoso pelos seus milagres. Associado à luz solar, este santo também era um devorador. Para ele foi fácil engolir todo o oceano de forma a destruir os demónios.
O problema é que privou toda a terra de água. A seca ameaçou a vida no planeta e deixou os homens desesperados.
Até que um rei piedoso, Bhagiratha, decidiu pedir a Brahma (o Criador) que deixasse o rio celestial, Ganga (ou Ganges), descer à terra. Após mil anos de práticas ascéticas, o rei conseguiu o favor divino.
No entanto, se o rio caísse diretamente sobre a terra, esta seria despedaçada.
A única opção seria pedir a Shiva que amortecesse a queda do rio.
Mas quem é Shiva? Shiva é o Yôgi divino. Ele está no mundo mas está para além do mundo. No topo dos Himalaias, Shiva está isolado e entregue à meditação. Não é um ser de fácil acesso.
O rei Bhagiratha dirigiu-se aos Himalaias e aí dedicou-se às mais elevadas práticas ascéticas, para atrair a atenção de Shiva.
E resultou! Shiva aceitou receber o impacto do rio celestial. O seu emaranhado de cabelos segurou o corpo de água e dirigiu-o com suavidade para os Himalaias, donde o Ganges pôde então fluir para toda a terra.
Esta história mostra o que acontece quando eliminamos o elemento água. A água representa o feminino, as emoções, a receptividade, a fertilidade, a maternidade, o poder do inconsciente, o sonho, a imaginação.
Sem água, ficamos secos por dentro. Nada cresce, nada flui.
A energia solar representa o elemento ativo, masculino. A sua força permitiu destruir os demónios, mas foi tão extrema que deixou o mundo seco e desnutrido.
Shiva surge como uma força de conciliação. É um deus que dança num círculo de fogo mas que tem o rio Ganges e a Lua nos seus cabelos. Muitas vezes é representado simultaneamente como homem e mulher.
Desde que comecei a praticar Yôga, em 2008, fui aprofundando a minha conexão com Shiva e aprendi algumas lições que gostaria de partilhar contigo.
1ª lição: respira e desperta
A Lua no cabelos de Shiva fala da importância dos ciclos. Um dos aspectos de Shiva é o Destruidor, e para percebermos a importância da destruição temos de entender que a vida é cíclica. Não existe nada de extático e duradouro.
A Lua está associada também ao elemento água. Ela rege as marés e influencia diretamente as nossas emoções.
Não é possível alcançar o estado de elevação espiritual quando as nossas emoções andam num turbilhão. É por isso que na prática de Yôga se dá tanto ênfase às técnicas respiratórias (pránáyáma). Para além de ajudarem o praticante a expandir a bioenergia, tornam as emoções serenas de forma a permitir atingir estados de consciência superiores.
Ao colocar a Lua no seu cabelo, Shiva está a mostrar que não nega as emoções e o seu lado Yin, mas que o superou com êxito.
E esse processo está ao alcance de todos nós. Por isso se aconselha alguém que está furioso a respirar fundo.
Num mundo onde tudo é mutável, conseguimos alcançar a serenidade através da respiração.
Uma das maiores lições que aprendi com Shiva foi saber respirar de forma a superar a ansiedade que a instabilidade da vida me fazia sentir.
Experimenta comigo:
Respira lenta e profundamente.
Cessa todas as outras atividades
Simplesmente respira
E continua a respirar
Suavemente
De cada vez, esvazia mais os pulmões
E enche mais os pulmões
Tens direito a toda a Vida que pulsa em teu redor
Tens direito ao Absoluto
Respira
Tudo muda
Tudo se transforma
Nada é estático
Mas tu estás no mais profundo estado de tranquilidade.
Tu, simplesmente, és
2ª lição: vive a tua verdade
Uma das maiores lições deste grande Mestre é que cada um de nós tem a sua própria verdade. Assim sendo, teremos de aceitar que a verdade dos outros não é a nossa, desenvolvendo empatia, compaixão, aceitação. Mas teremos também de aprender a procurar a nossa verdade. E isso requer um trabalho profundo de autoconhecimento.
Na conexão intuitiva que gravei para o programa "Catch the Gods", Shiva transmitiu o seguinte:
Aprendam a viver em Verdade. Pois sempre que não vivem em verdade estão a construir muros e obstáculos Aprendam a identificar aquilo que é a vossa Verdade. E transponham isso para todos os vossos comportamentos, palavras e gestos.
Não é à toa que Shiva está a pisar o demónio da ignorância. Nós, humanos, somos extremamente ignorantes. O véu de ilusão que nos envolve é demasiado denso.
O acesso à verdade interna é feito através do 3º olho: o olho intuitivo, o olho que vê para além das aparências.
Busquem a Luz da Verdade e toda a ignorância irá desaparecer das vossas vidas. Tornem-se límpidos e transparentes e a Luz irá ter convosco.
E aqui aprendemos sobre a verdade que existe para além da Maya: a verdade do Absoluto, do imutável, do eterno.
E, sim, temos agora duas lições opostas: nada é extático e no entanto nada muda.
Repara na Lua. Ela muda todos os dias, certo?
Sim e não.
A percepção que temos dela é que muda. Ela não desaparece do céu nas noites de Lua Nova. Está lá e o seu corpo é exatamente o mesmo. Nós, aqui na Terra, só vemos a superfície da Lua.
Assim é com todas as coisas. Há algo de imutável para além da superfície instável.
3ª lição: encontra o equilíbrio
Estamos a viver um período de profundas transformações no que diz respeito às forças femininas e masculinas, e penso que é natural que exista muita confusão.
Nunca soubemos como lidar com a dualidade.
Tal como os eremitas que fizeram com que a terra ficasse sem água, por vezes tornamo-nos estéreis com as nossas ações precipitadas.
Também não podemos deixar as águas correrem com toda a sua força, ou seríamos esmagados pelo poder emocional e inconsciente.
Entre ambos os pólos, precisamos de um arquétipo sábio como Shiva.
Shiva é um deus que dança e que contém em si todos os aspectos. Ele pisa a ignorância (o anão debaixo do pé), a ignorância que não nos permite ver a essência das coisas, que nos divide, que nos aprisiona no mundo da Maya (da ilusão).
Shiva não recusa o seu aspecto masculino nem o seu aspecto feminino. Não recusa o seu aspecto criador nem o seu aspecto destruidor.
Então, como podemos aprender com ele?
Simplesmente mergulhando na sua energia: contemplando a sua imagem, entoando os seus mantras, fazendo uma prática de Yôga, escrevendo sobre ele, invocando o seu nome.
Tenho várias experiências pessoais em que simplesmente invoquei o auxílio de Shiva e houve claros indícios da sua intervenção. Que tipo de ser é ele? Não sei. Pode ser simplesmente um arquétipo, uma estrutura psíquica reforçada por séculos de invocações, práticas e reverência.
Ou pode mesmo ser um deus.
Não sei dizer-te. Apenas sei que ele se manifesta quando o chamamos e que fazendo a conexão com Shiva tornamo-nos aptos a dançar com a Vida nestes tempos de incerteza, ignorância e caos.
Quando Shiva nos ajudar a encontrar o equilíbrio dentro de nós mesmos, iremos também encontrar esse equilíbrio no mundo.
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