Ela comeu um bago de romã e assim foi beijada pela Morte, ficando comprometida com o Submundo para a eternidade. E todos nós, mortais, ficámos ligados a esse compromisso.
Quem diria que um pequeno bago de romã podia ter consequências tão profundas para toda a vida na Terra?
Mas antes de chegarmos à Rainha do Submundo, é preciso perceber o longo caminho percorrido pela sua mãe, a deusa Deméter.
Um dia, a jovem Koré estava a colher flores, acompanhada pelas ninfas. A sua beleza era lendária, e muitas propostas de casamento haviam sido recusadas pela sua mãe, Deméter.
Inocente, a jovem foi seduzida por um lindo narciso, que a deusa Afrodite havia tocado com a sua luz amorosa.
Nese momento, a terra abriu-se e o deus do submundo, Hades, raptou a jovem.
O 1º beijo da Morte
Hades, rei dos mortos, tinha-se enamorado de Koré quando ela ainda era uma criança. A ideia de desposá-la já não o abandonou. Pacientemente, aguardou até que a jovem atingisse a idade madura.
E, assim que pôde, veio tomá-la.
Sem saber o que tinha acontecido, Deméter recorreu aos deuses. Ninguém falou. Afinal, Hades era um dos deuses mais poderosos. O mundo estava dividido entre ele e os seus dois irmãos: Zeus (deus do Céu e da superfície da Terra) e Poseídon (deus dos mares).
Mas Deméter não desistiu. Na sua busca, encontrou a feiticeira das encruzilhadas, Hécate, a deusa tríplice e lunar. A sábia feiticeira recomendou a Deméter que buscasse Apolo, deus do Sol. Lá do alto, nada lhe escapava.
O belo deus solar sabia onde estava a linda Koré.
- Não te preocupes, querida Deméter. A tua filha está em segurança, no reino de Hades, com quem se casou, com a aprovação de Zeus. Ela é agora Rainha do Submundo.
Deméter ficou transida de dor. Como deusa olímpica que era não podia entrar no Submundo. Também não podia recorrer aos outros deuses, pois afinal todos sabiam do casamento e mantinham silêncio por receio de Zeus.
A sua filha já não era Koré (donzela). Agora era Perséfone, Rainha dos Mortos. Tinha recebido o 1º beijo da Morte.
O 2º beijo da Morte
Desesperada, Deméter vagueou pelo mundo, até parar em Elêusis. Aí, confundida com uma velha e simples mulher, Deméter foi convidada para ficar no palácio da rainha Metaneira. Desconhecendo que estava na presença de uma deusa, a rainha convidou Deméter para tomar conta do seu filho, Demofonte.
Como dádiva pela hospitalidade, Deméter aceitou, pois pretendia oferecer à criança a capacidade de ser tornar imortal. Mas a rainha interrompeu um ritual sagrado, no qual Deméter tinha mergulhado a criança nas chamas da lareira.
Meu Demofonte, a estrangeira com chamas ingentes te encobre e me coloca em gemidos e preocupações lutuosas!
A deusa ficou irritada com a interrupção e decidiu revelar-se em toda a sua glória.
"Néscios humanos! Ineptos em reconhecer a medida de quanto bem sobrevem para vós tanto quanto do mal!
Ser humano é ser ignorante. Os deuses sabem o que nós nem conseguimos imaginar!
Eu sou Deméter, quem honras detém, geratriz dos maiores júbilos para imortais e mortais e também benefícios.
E assim, revelando-se, a deusa exigiu a construção de um templo, onde pudesse ensinar aos ignorantes mortais os ritos secretos.
E este foi o 2º beijo da Morte. Menos um deus para o panteão dos imortais.
O 3º beijo da Morte
Entretanto, o mundo ressentia-se pela ausência da deusa Deméter. As colheitas definhavam e a fome grassava.
A Morte banqueteava-se, num festejo negro que rivalizava com os festejos olímpicos. O seu 3º beijo devastava terras, gado e humanos, numa celebração de finitude e luto.
As sementes, a terra não germinava: ocultava-as a bem-coroada Deméter.
Lá em cima, os deuses buscavam uma solução. Deméter não atendia aos seus pedidos para que voltasse a deixar crescer os frutos.
Finalmente, Zeus acedeu a chamar Perséfone de volta.
Para isso, pediu ao único deus que podia transitar livremente por todos os mundos que se dirigisse ao reino de Hades.
O sempre jovem Hermes (Mercúrio) acedeu e procurou a bela rainha, relatando ao casal divino do Submundo todos os horrores que assolavam a Terra.
Era o 3º beijo da Morte, o mais letal e perigoso. Sem o toque de Deméter, não havia alimento. Os humanos deixavam de honrar os deuses e estes acabariam no esquecimento. A relação entre humanos e eternos era assim frágil... e estava nas mãos de uma mãe sofredora.
O 4º beijo da Morte
O inteligente Hades, percebendo que não podia impedir o regresso de Perséfone, entregou-lhe uns bagos de romã.
Sem saber que apenas com tão pequeno fruto estava a comprometer o seu destino, Perséfone comeu.
Foi só quando Hermes a conduziu até à sua mãe, num doce e filial reencontro, que este mistério ficou explicado.
Se comeste, de novo voltando ao profundo da terra, tu morarás por um terço das Horas a cada um dos anos, e as outras duas ao lado de mim e dos outros eternos.
Este foi o 4º beijo. Por comer os bagos de romã, Perséfone ficou obrigada a regressar anualmente ao Submundo. Nesse período, a Terra não iria produzir. Era o reinado da Morte.
Mas, quando a terra com flores fragrantes e primaveris de toda sorte florir, novamente do breu nevoento tu voltarás, grande espanto aos divinos e aos homens mortais.
E nos dois terços do ano em que Perséfone regressasse à superfície, as colheitas floresceriam. A primavera pisaria o solo fértil, fazendo brotar o trigo, as flores, os frutos e trazendo o espanto a todos os seres.
Era o ciclo da vida-morte-vida. Um ciclo que marcaria a Natureza, a humanidade e os próprios deuses.
Os mistérios eleusinos
Em Elêusis, o templo de Deméter acolheu durante muito tempo os rituais sagrados. Em que consistiam esses rituais oferecidos pela deusa?
Deu ritos sacros, que não se transgridem nem mesmo se aprendem, nem se proferem, pois grande respeito aos divinos os cala. Próspero é aquele que os viu entre os homens que vivem na terra; mas incompleto quem não participa dos ritos, nem nunca tem bom destino morrendo, debaixo do breu nevoento.
Ainda hoje, pouco se sabe. Apenas que os Iniciados viviam algo tão poderoso que a sua visão do mundo era alterada. Talvez percebessem que eram almas imortais em corpos temporários e que, tal como Perséfone, iriam regressar do reino dos Mortos para o reino dos Vivos, ciclo após ciclo, encarnação após encarnação.
No interior do Templo, é possível que a história mítica tomasse forma e que o divino deixasse a sua marca na consciência dos felizes Iniciados.
Reviver o mito de Perséfone é compreender a essência da Vida e da Morte, um movimento que existe dentro de cada ser humano.
Hades vem iniciar este movimento, irrompendo da Terra com a força de um vulcão. Deméter, cujo ventre dá Vida, nutre as sementes e faz florescer a vida terrena. Perséfone faz a ligação entre estas duas forças, ligando Vida e Morte num compromisso eterno. E, finalmente, os Mistérios vêm fazer a alquimia de transformação em cada ser humano, ajudando na evolução da Consciência e preparando-a para os novos ciclos.
Só nas profundezas dos Mistérios iremos entender os 4 beijos da Morte.
Mas não havendo mais templos, o caminho agora é interno.
O mito nos dias de hoje
Em tempos de crise, seja a nível pessoal, seja a nível coletivo, é urgente desenrolar este mito para percebermos a importância do ciclo vida-morte-vida.
O mundo está em estado de emergência há muito tempo, e parece que só depois da visita de um minúsculo vírus, mais pequeno que um bago de romã, é que começámos a despertar de um sono coletivo. A morte está presente no nosso subconsciente em todos os momentos e arriscamo-nos a que os nossos medos mantenham Perséfone no Submundo.
Há que ir buscá-la, para que a Vida e a alegria possam florescer à superfície. Mas para isso é preciso mergulhar nesta história, nestas personagens, nestes arquétipos. É preciso reclamar a força de Deméter, cuidando de nós próprios e dos outros. É preciso voltar a despertar em nós a capacidade de liderança de Zeus, com a sua visão global, a sua habilidade para encontrar soluções e a sua força de concretização. É preciso a inteligência de Hades e a constância do compromisso com a nossa própria profundidade. É preciso a agilidade de Hermes e a flexibilidade que nos permite adaptar às novas condições e viajar com confiança para o desconhecido.
Mas, sobretudo, é preciso irmos, como Perséfone, ao Submundo. Pois é lá que em primeiro lugar nos reencontramos connosco e com as nossas próprias sombras. E precisamos de transmutá-las para podermos ver novamente a Luz.
Tudo o que acontece no mundo é somente um reflexo do que acontece dentro de cada um de nós. Para mudarmos o mundo, precisamos de elevar a nossa consciência, conhecendo-nos em profundidade.
Se sentes o apelo de trabalhar com Perséfone, convido-te a entrar numa jornada transformadora:
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