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O encanto das Sereias ou como ficar comprometidos com o nosso propósito de vida

Quem nunca se atirou à água, seduzido pelo canto de alguma Sereia?


Se pensarmos que a Sereia representa uma ilusão, quem entre nós nunca se deixou iludir?


A Odisseia, obra de Homero, relata a viagem de Ulisses após a Guerra de Tróia, no seu conturbado regresso a Ítaca, a sua terra natal.


Ulisses era um dos homens mais inteligentes da Antiguidade. Sem artes mágicas, vencia os obstáculos apoiado pela sua sabedoria interna.


Foi dele a ideia do Cavalo de Tróia, que permitiu aos Aqueus vencer os Troianos. No entanto, ele teria de penar durante dez anos na sua viagem antes de conseguir regressar a Ítaca.


Uma das suas paragens é na ilha de Eana, onde vive Circe, a deusa-feiticeira.


Nesta parte da história, Circe informa Ulisses que iria ter de passar por um local onde muitos homens tinham morrido por se terem deixado seduzir pelas Sereias. Estas viviam num prado florido e à sua volta estavam “amontoadas ossadas de homens decompostos”.


Na Odisseia, não encontramos a descrição física das Sereias, mas em muitas obras antigas são figuradas como seres híbridos, metade mulher, metade pássaro. Só mais tarde dariam origem às mulheres-peixe.


Circe recomenda a Ulisses que ponha cera nos ouvidos dos marinheiros e que, se desejar ouvir o canto das Sereias, se amarre ao mastro da embarcação. Poderá dessa forma escutar a voz das Sereias sem correr o risco de morte.


As Sereias não têm vozes vazias, como se possa pensar.


Nas suas vozes há duas tentações terríveis: o conhecimento do passado e o conhecimento do futuro.


Quando chamam Ulisses, elas não prometem prazeres.


Prometem sabedoria.


“Vem até nós, famoso Ulisses, glória maior dos Aqueus!

Pára a nau, para que nos possas ouvir! Pois nunca

Por nós passou nenhum homem na sua escura nau

Que não ouvisse primeiro o doce canto das nossas bocas;


Depois de se deleitar, prossegue caminho, já mais sabedor.

Pois nós sabemos todas as coisas que na ampla Tróia

Argivos e Troianos sofreram pela vontade dos deuses;

e sabemos todas as coisas que acontecerão na terra fértil”.*


Quem conseguiria resistir ao conhecimento do passado e do futuro?


Imagina que encontravas alguém que te podia explicar todos os acontecimentos do teu passado, todas as dores, todos os motivos ocultos das pessoas com que te havias relacionado. E que te podia descrever o futuro, em qualquer tempo, em qualquer lugar!


“todas as coisas que acontecerão na terra fértil”.


Que promessa deliciosa!


Ulisses permaneceu amarrado ao mastro, enquanto as Sereias o chamavam. Pediu aos seus companheiros que o desamarrassem, sim! Que homem não o faria?


Mas os marinheiros apertaram-no com mais firmeza e Ulisses superou a árdua prova.


Ouviu as vozes doces e límpidas das Sereias, vozes não humanas, mas não chegou a conhecer o canto que lhe prometia conhecimento. Suponho que só os que morreram o puderam fazer. Há mistérios que devem permanecer ocultos.


Ulisses amarrado ao mastro da embarcação, sendo seduzido pelas Sereias

Trazendo este episódio para os dias de hoje, interrogo-me se estaremos capacitados para ouvir as Sereias como Ulisses.


Ao longo da nossa jornada, vão surgindo situações que rapidamente nos fazem saltar do barco.


Caímos ao colo das Sereias e somos devorados. Ou então, tapamos os ouvidos para não darmos conta das tentações.


Pessoalmente, sinto que já vivi ambos os extremos. Atirei-me às Sereias quando andava numa busca permanente. Queria experimentar tudo e não conseguia discernir o que era bom para mim.


Depois, fiz o oposto. Agarrei-me a certas posições dogmáticas e tapei os ouvidos a tudo o que pudesse constituir uma tentação. Assim, sabia que estava segura.


Mas nunca tinha sido Ulisses!


Nunca me tinha conseguido amarrar ao mastro da minha embarcação e ouvir as vozes sedutoras simultaneamente.


Até que me comprometi com algo.


E quero dizer-te que tu também podes ser Ulisses.


É simples: compromete-te com o teu propósito de vida.


Compromete-te com a verdade da tua alma.


Nesse momento, vais sentir-te como Ulisses, a navegar em direção ao teu destino, podendo escutar todas as vozes (implorando aos marinheiros para te soltarem, sim, mas já sem capacidade de fuga).


Porque a corda que nos amarra ao mastro da nossa própria embarcação não se desamarra assim facilmente quando os nós são de compromisso.


E, nesta viagem, se estivermos amarrados com a força da nossa convicção interna, podemos escutar todas as vozes e observar todas as promessas. Podemos ver os homens que saltam dos barcos e os que resistem.


Podemos ouvir as Sereias!


Não importa... porque ao longe, no horizonte, ergue-se a promessa de Ítaca.



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* "A Odisseia" de Homero, tradução de Frederico Lourenço

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