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Foto do escritorSusana de Sousa

A Melancolia e a Musa - a visão do Human Design


Este blog é um espaço onde me permito partilhar os meus trabalhos criativos, mas por trás dele existe todo um campo emocional não visto e não dito: o campo da melancolia.


O estado de melancolia é como que o reverso da criatividade. Sinto que é importante falar dele, pois à medida que nos aproximamos de 2027, a Cruz da Fénix Adormecida vai banhar-nos com a sua energia individual e vamos todos ter de lidar com a melancolia.


Antes de explicar como lidar com a melancolia, deixa-me dizer-te de onde surge.


A melancolia está latente em todas as ativações do circuito individual num gráfico. O circuito individual é o circuito criativo: aquele local dentro de nós donde brota o novo, o único, o diferente. Potencia-nos a lutar pela mutação inspiradora que nos inicia na senda do despertar, a dançar no pulso mutatório de humores e intuições criativas, a seguir a batida pulsante da consciência transformadora que explora a sua própria verdade individual.


A melancolia sente-se de forma mais intensa quando temos um canal individual (duas ativações que criam um fluxo energético entre Centros), mas basta uma ativação para nos arrastar para uma sensação de tristeza e de falta de esperança.


É como se a energia criativa subitamente se retirasse e nos deixasse num vazio que não temos ideia de quando irá terminar.


Todos os seres individuais oscilam entre uma energia de criação exuberante e uma melancolia profunda.


Eu nasci na Cruz da Encarnação do Individualismo, o que quer dizer que todas as minhas principais ativações são propensas à melancolia. Além disso tenho um dos canais individuais mais melancólicos: o Canal da Luta.


Sou melancólica desde que me lembro. E quando a melancolia passa, algo em mim floresce. Nascem projectos, nasce uma nova capacidade de lutar por algo com propósito, nasce uma nova provocação para potenciar os outros a descobrirem o seu espírito único.


Para que isso aconteça, para que depois da melancolia possa realmente surgir algo novo, aprendi que temos de deixá-la em paz. Não tentar mudá-la, não tentar encontrar razões para o seu surgimento, não tentar destrui-la com falsos substitutos químicos.


Isso não é fácil para um ser individual! Navegamos na incerteza, pois somos impulsionados por uma batida imprevisível, e o que mais queremos é saber. Saber as razões da melancolia, saber quando vai passar, saber o que vai nascer dela.


Se a provocamos para que se desvele, acabamos por destrui-la. É tão frágil como uma sementinha. Removê-la da sua proteção deixa-a exposta e pode matá-la.


Se a regarmos com boas doses de alegria, porque naquele dia não dá muito jeito estar num estado letárgico e triste, também podemos destrui-la.


Já me aconteceu ter de desmarcar compromissos por me encontrar num estado de melancolia, mas também já tive de comparecer. Simplesmente não me forcei a “estar em alta”.



A melancolia e o “baixo da onda”


A melancolia pode surgir em pessoas com o Plexo Solar definido ou indefinido.


O Plexo Solar é o centro energético das emoções. Quem tem um Plexo Solar definido pode oscilar entre ondas emocionais de arrebatamento e de apatia, de paixão e de dor, de necessidade e de rejeição, de desejo e de melancolia.


Essas pessoas, que constituem cerca de metade da população, devem aprender a honrar os seus estados emocionais, tendo consciência de que contagiam os outros em seu redor. Como o Plexo Solar tem uma força incrível, o mundo é movido por essas ondas, que são depois amplificadas por aqueles que têm o Plexo Solar indefinido.


Se o Plexo Solar estiver ativado por um canal individual, a pessoa irá oscilar entre humores, emoção, melancolia e paixão.


Quando definido num gráfico, o Plexo Solar é sempre a autoridade interna para a tomada de decisões. Isso faz com que na impaciência para tomar uma decisão, a pessoa tenda a fazer algo de forma a escapar à melancolia e à tristeza. A tendência é querer perceber qual a razão para esse estado e como sair dele.


Esse não é o caminho saudável e pode desviar a pessoa de viver de acordo com o seu Propósito (isto é o meu Canal da Luta a falar!).



Mas “porquê”???


“Há um segredo para toda a criatividade e o segredo para toda e criatividade é: não perguntes porquê e não tenhas nenhuma expectativa.” Ra Uru Hu

Num mundo em que cerca de 70% da população tem um Centro da Cabeça indefinido, perguntar “porquê” é, como se diz na gíria, “o prato do dia”. Acrescente-se a isto a Individualidade, que pulsa na incerteza e na vontade de mudança, e temos os pensamentos num turbilhão de “porquês” e “o que fazer para mudar isto?”...


Uma das chaves para lidar com a melancolia é fazer algo que nos coloque num estado de serenidade mental, para evitar este tipo de pensamentos.


Temos de aceitar a tristeza como um campo criativo, abraçar o seu potencial, ainda que nos magoe.


Por outro lado, é preciso calar as expetativas. Se a criatividade é individual, ela funciona num pulso. Ou está lá ou não está lá. Se criamos expetativas acerca de um projeto criativo (algo do género: vou escrever um livro em 9 semanas) destruimos o verdadeiro potencial de criação.


Conheço bem a diferença de projetos em que me forcei a produzir algo criativo e de projetos em que simplesmente me permiti navegar ao ritmo das ondas de melancolia e criatividade.


Render-me à melancolia permitiu-me abrir o fluxo criativo dentro de mim.



Estar com a Musa


A melancolia é discreta, simples, como o esboço de uma poesia nostálgica, as notas indecisas de uma melodia crepuscular ou as pinceladas tímidas numa tela despida.


O estado de melancolia permite-nos flutuar num oceano imenso, onde podemos sentir o sopro das Musas. É como se estivéssemos a ser impregnados por um Sopro divino, criador. Oscilamos no reino da nossa Musa preferida e recebemos o seu potencial criativo.


As Musas, segundo a tradição greco-romana, são 9. Desde a poesia à música, passando pelos astros e pelo erotismo, elas ativam as diferentes áreas de atuação do Poder Feminino. Sendo 9 o número da Deusa, do Princípio Feminino, as Musas representam simbolicamente a totalidade criativa, permitindo trazer à forma a eternidade espiritual.


Joseph Campbell fala-nos da canção das Musas:


“Quando tiveres morrido para o teu ego e para a consciência racional, a intuição abre-se, isto é, escutas a canção da Musa e isso é o poder feminino”.


Sendo o Human Design um sistema que se debruça sobre a forma, sobre a energia Yin, falar do Sagrado Feminino como potencial para a transcendência parece-me simplesmente natural.


Ra Uru Hu pede-nos para “ver o corpo como solução, não como problema”. É através do corpo, da rendição à sua sabedoria, que conseguimos ir além da mente.


Esta é uma jornada de rendição, que em vez de nos trazer para um estado de passividade, nos amplia a consciência. É dar permissão para que uma consciência mais ampla, a que eu chamo a consciência do nosso Eu Superior, nos impregne e nos guie.


“Não encarnamos para sermos simplesmente um princípio da forma; caso contrário seríamos golfinhos ou plantas” diz-nos Ra, como o seu habitual sentido de humor “freak” (individual). “Estamos aqui para cumprir um programa de consciência”.


Estar desperto na forma é o melhor modo de trazer a Beleza de Ser à sua máxima concretização. E isto só acontece quando se dá a rendição do ego e da mente ao poder magnético da existência.


Quando percebes que é a Vida que te guia, e não o contrário, estás a render-te a algo tremendo: à força da Criação.


Após esta rendição, torna-se fácil lidar com a melancolia, pois passamos a aceitá-la como algo natural e belo.



Tenho melancolia, e agora?


Se estás sentir melancolia, abraça-a com gratidão. Percebe se a melancolia é natural em ti (se tens fortes ativações do circuito individual) ou se estás a passar por algum trânsito. Muitas depressões são simplesmente estados de melancolia mal resolvidos.


Experimenta ouvir música. A melancolia é produzida no Circuito Individual, que é acústico por natureza. A música altera a tua frequência e pode mudar os teus humores.


A melancolia é diferente de pessoa para pessoa, e numa análise individual podemos ver como se expressa em ti e qual a melhor estratégia para lidar com ela.


Descobre mais em:




Depois da melancolia


Aprendi que a melancolia dá origem a movimentos criativos, e que desses movimentos muitas coisas podem brotar.


No meu caso, após longos momentos de melancolia, têm nascido artigos, mentorias e livros. Esta é a vertente visível de um processo que não pode ser visto apenas do ponto de vista de um dos seus momentos, mas que tem de ser olhado na sua totalidade.





Ilustrações


As imagens que ilustram este artigo são da talentosa Susana Jesus. Podes seguir o trabalho dela aqui.


 


O que dizem desta newsletter:


"Cada newsletter é sempre uma boa surpresa e escrita numa linguagem doce e maravilhosa que nos enche a alma."

“Tanta LUZ!”

"Ler esta newsletter é um bálsamo para a alma e um elixir de renovação para o coração!"

“Espectacular!”

“Obrigada por seres este veículo de descoberta e autoconhecimento.”

“Wow! Adorei!”

“Susana, todas as suas mensagens vêm mesmo no momento certo.”

“Emocionante.”

“Estás a funcionar como um despertador!”

“Lindo!”

"Adoro a tua escrita! Tão poética e bela, fico com um senso tão maravilhoso das coisas pela forma como te exprimes."

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4 Comments


Paulo Coelho
Paulo Coelho
Aug 22, 2021

Ajudaste-me hoje com estas palavras, relembrar que a melancolia faz parte e como lidar com ela foi mesmo importante, por momentos senti-me longe deste conhecimento e andava no velho hábito dos porquês... Muito mais tranquilo e grato por tudo... és um espectáculo Susana. Gratidão

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Susana de Sousa
Susana de Sousa
Aug 22, 2021
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Fico feliz por ajudar, Paulinho! ☺️

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Jose Leite
Jose Leite
Apr 19, 2021

A Susana consegue através das palavras certas, elevar a nossa consciência, em que de uma forma poética e intuitiva nos eleva, nos leva a navegar naquilo que está no mais profundo do nosso Ser!

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Susana de Sousa
Susana de Sousa
Apr 19, 2021
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Que bom poder dar esse contributo! Obrigada pelo teu feedback, José Leite!😀

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